Eleições no Brasil e a Comunidade de Inteligência dos EUA
NIKANDROV Nil | 2010/07/10 | 20:14
CIA Brasil EUA
Pareceu suspeito quando recentemente, Washington, que tende a depreciar as "imaturas" democracias da América Latina e Caribe sem restrições, tenha feito sérios esforços para demonstrar respeito pelo Brasil. A administração G. Bush enquadrou como "imaturos" os estados latino-americanos com regimes populistas e, em geral, todos os países que desafiem a pressão dos EUA para defender os seus interesses nacionais. O Brasil nunca permitiu que se discutisse o seu direito à soberania e à posição de independência na política internacional ao longo dos oito anos da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, e era amplamente esperado que a administração G. Bush acabaria por perder a paciência e tentar domar o líder brasileiro. Mas nada disso aconteceu, evidentemente porque os EUA se sentiu sobrecarregado demais com problemas com a Venezuela para estar envolvido em um conflito adicional na América Latina.
Falando a diplomatas e agentes de inteligência na Embaixada dos EUA no Brasil em março de 2010, a Secretário de Estado dos EUA H. Clinton enfatizou: "na administração Obama, estamos tentando aprofundar e alargar as nossas relações com um certo número de países estratégicos e o Brasil está no topo da lista. Este é um país que realmente importa. E é um país que está tentando firmemente cumprir sua promessa ao seu povo de um futuro melhor. E assim, juntos, os Estados Unidos e o Brasil tem que liderar o caminho para os povos deste hemisfério. "
Vale ressaltar que H. Clinton reconheceu no Brasil nada menos do que o direito de mostrar o caminho para outras nações, embora de mãos dadas com Washington. Para esta última, o caminho é o de suprimir as iniciativas socialistas em todo o continente, se abster de apoiar projetos de integração regional a menos que sejam patrocinados pelos EUA, opor-se aos esforços populistas que visam a formação de um bloco latino-americano de defesa e impedir a escalada da expansão econômica chinesa.
Os EUA nomeou o ex-chefe do Bureau de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado Thomas A. Shannon - um peso pesado da diplomacia com reputação de falcão - como novo embaixador para o Brasil às vésperas das eleições no país. Ele se esforçou para convencer o presidente do Brasil a alinhar o país com os EUA e a adotar políticas menos independentes na arena internacional. Washington ofereceu vantagens ao Brasil como maior cooperação na produção de combustíveis renováveis, consentiram em que estabelecesse uma divisão da Boeing no país, e assinou uma série de acordos com as indústrias de defesa brasileira, incluindo a nogociacão de 200 aviões Tucano para a Força Aérea dos EUA.
O presidente Lula da Silva não entrou nessa. Ele teimosamente manteve a parceria com a H. Chavez e Morales, desfilou em Havana e Teerã, condenou o golpe pró-EUA em Honduras, e até mesmo se comprometeu a desenvolver o setor de energia nuclear nacional. Ele propôs Dilma Rousseff - uma candidata de que se pode esperar que trilhe um caminho igualmente independente - como sua sucessora. E, alarmante para Washington, Dilma costumava ser próxima do Partido Comunista e foi membro da Vanguarda Armada Revolucionária - com o peculiar pseudônimo de Joana d'Arc - nos anos 70. Ela foi traída por um agente do governo, presa, torturada usando os métodos que a CIA ensinou na Escola das Américas, e teve que passar três anos na cadeia. Por isso, mesmo décadas depois Rousseff não é uma pessoa de quem se possa esperar que seja uma grande fã dos EUA.
A campanha de Dilma ganhou força gradualmente e as sondagens começaram a dar-lhe um lugar na corrida à frente do candidato de direita José Serra. Jornalistas amigos dos EUA e agentes da CIA sondaram a sua disponibilidade para firmar um acordo secreto com Washington e como era previsível descobriu que o plano não tinha chance pois Dilma Rousseff resolutamente garantiu fidelidade ao caminho seguido pelo presidente Lula. A CIA reagiu tentando difamar Dilma, e os meios de comunicação de imediato lançaram um mito sobre o seu extremismo. Encontraram informantes da polícia, que posaram como "testemunhas" de seu envolvimento em assaltos a banco na intenção de pegar o dinheiro para apoiar o terrorismo no Brasil. A mídia conservadora travou uma guerra de pesquisas e elogiado em coro o candidato pró-EUA José Serra como o inconteste favorito e Dilma - como um rival puramente nominal. A situação, no entanto, estabilizou e Dilma Rousseff finalmente emergiu como a líder da campanha, graças ao apoio pessoal do Presidente Lula.
Faltaram 3-4% de votos a Dilma para fazê-la vencedora do primeiro turno das eleições. O resultado do segundo turno dependerá em grande parte dos adeptos do Partido Verde, Marina da Silva Vaz de Lima, que teve a terceiro votação nas eleições, com 19% dos votos. A disputa pelos apoiadores do Partido Verde está em andamento, e o time secreto de Shannon fará sem dúvida de um tudo para conseguir uma aliança entre Serra e Marina Silva.
Os apoiadores de Dilma visivelmente diminuíram seu triunfalismo inicial - o segundo turno é um jogo difícil, e os adversários de seu candidato têm total apoio do império poderoso e cheio de recursos, que é conhecido por ter impulsionado rotineiramente candidatos sem esperança para a vitória. A mídia no Brasil - o império de mídia do O'Globo, os editoras da Abril, influentes jornais como a Folha de S. Paulo e mais a revista Veja - estão diligentemente fazendo lavagem cerebral no eleitorado do país.
A equipe de Shannon está encarando a missão de ajudar "novas forças" - menos propensas a desafiar Washington - a obter controle sobre o poder no Brasil. Desse ponto de vista, o ator certo é o Partido Verde, onde os agentes da CIA há muito tempo conquistaram posições chave, já que os EUA são tradicionalmente interessados nos problemas ecológicos da bacia amazônica. No momento a CIA está cortejando líderes e ativistas verdes e paralelamente exigindo promessas de cargos para eles no próximo governo diretamente aos gestores da campanha Serra. Washington deve estar trabalhando com urgência, considerando que Marina Silva e seu grupo planejam decidir em 10 de outubro de que lado da balança vão lançar o seu peso no segundo turno. Dilma Rousseff, por outro lado, também tem o potencial de atrair simpatizantes do Partido Verde, considerando-se que Marina Silva era um membro do governo do presidente Lula até 2008.
A CIA emprega ex-policiais brasileiros demitidos de seus cargos por várias razões para fazer o trabalho de campo como vigilância, invasões de domicílio, roubos de dados de computador e chantagem. Na maioria dos casos, estes são indivíduos com tendências ultra-direitistas que consideram Serra como seu candidato. Ministérios do Brasil, a comunidade de inteligência e o complexo militar-industrial estão fortemente infiltrados por agentes dos EUA. A embaixada dos EUA e o pessoal dos consulados no Brasil inclui cerca de 40 agentes de inteligência da CIA, DEA, FBI e do exército - o us army - e têm planos para abrir 10 novos consulados nas principais cidades do Brasil, como Manaus na Amazônia.
Embora o Departamento de Estado dos EUA venha reduzindo o tamanho da representação diplomática no mundo em um esforço para cortar despesas orçamentárias, o Brasil continua sendo uma exceção à regra. O país tem potencial para se estabelecer como um contrapoder geopolítico para os EUA no Hemisfério Ocidental dentro dos próximos 15-20 anos e as administrações dos EUA - sejam republicanas ou democratas - estão preocupadas com a tarefa de impedi-lo de assumir o papel.
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essa tradução sem vergonha é responsabilidade d'o martelo.
em inglês aqui.. http://omarteloo.blogspot.com/2010/10/ned-cia-na-parada-o-imperio.html
Fonte original: http://www.strategic-culture.org/news/2010/10/07/elections-in-brazil-and-the-us-intelligence-community.html
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